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Botucatu, 02 de Junho de 2024

“A Arte de Dizer ‘Foda-se’: Abraçando o Caos”

Quero dar as boas-vindas oficialmente a junho, o melhor mês de todos os tempos! Digo isso com um sorriso no rosto, e fingindo que ontem à noite não chorei por estarmos neste mês, por estarmos perto do meu aniversário… Estou prestes a fazer 23 anos e isso me deixa um pouco assustada. Não acredito que irei fazer FUCKING 23 anos! Quando foi que fiquei tão velha sem perceber? Parece que foi ontem que eu tinha 18 anos e não sabia nada da vida… Quero dizer, eu ainda não sei nada, mas pelo menos com 18 anos ainda podia usar essa desculpa de ser nova de mais. E agora, como eu explico pras pessoas que eu vou fazer 23 anos e ainda não sei descascar uma laranja?

Todos os anos, eu me encontro em um limbo delicado entre amar e odiar o mês do meu aniversário. Posso afirmar que amo mais do que odeio, mas, durante esses dias até o dia em questão, tenho alguns picos intensos de tristeza. Acredito que o problema não seja o mês em si, mas a enorme expectativa que crio em torno dele. Em torno de mim, especificamente.

Para mim, junho é como um ano novo. Começo a refletir sobre tudo o que conquistei ou deixei de conquistar, as coisas que queria fazer e não fiz, e onde gostaria de ter chegado e não cheguei. Talvez eu tenha uma visão mais negativa durante esse mês? Talvez. Mas, sem perceber, já me joguei no fundo do poço, achando que sou uma péssima pessoa e que não mereço nada, porque me sinto como um pedaço de nada.

Como eu disse, conforme os dias vão se passando, eu vou criando uma enorme expectativa na minha mente, como se, de um dia para o outro, eu pudesse me transformar em uma nova pessoa. A PESSOA.

Mesmo sabendo que nada acontece de repente, lá no fundo, eu mantenho a esperança de que algo vá mudar, que algo dentro de mim vá virar uma chavezinha e, de repente, sem mais nem menos, eu me torne uma garota que aproveita a vida sem se importar com nada. Imagino-me sem me preocupar com a opinião dos outros, sem ansiedade, com muito dinheiro na conta, capaz de bancar uma viagem dos sonhos ou até mesmo alcançar a independência financeira. Penso nas coisas mais absurdas, e outras nem tão absurdas assim, mas que, com certeza, eu conseguiria alcançar. Eu me tornaria a pessoa mais incrível de todos os tempos. Simples assim.

E como vocês podem perceber, eu sei que nada disso acontece. Mas, de algum modo, saber e entender que eu não irei me tornar essa pessoa me frustra. Isso me deixa triste. Parece que, a cada ano, quando entro em junho, essa frustração se torna maior, mais intensa. Fico me questionando por que não é tão simples? Por que sou tão falha?

E, claro, muito mais do que a simples frustração, vem a autocobrança. A infernal autocobrança. Porque é claro que, se eu não consegui realizar todos os meus sonhos em 22 anos, com certeza eu tenho que conseguir em 18 dias, até o meu aniversário. E acho que você já conhece o desenrolar dessa história: os dias vão se passando, eu não vou conseguindo realizar, a ansiedade vai aumentando, a tristeza vai crescendo, e, no final do dia, estou me sentindo uma bosta ambulante, tendo crises de ansiedade.

Como eu disse, é uma linha muito tênue entre querer e conseguir, entre projeção e realidade, entre esperança e frustração.

Poderia falar mais sobre essas questões, mas acredito que isso vai ser o título de outro post. Por enquanto, saibam que estou trabalhando na terapia e enfrentando um velho conhecido: o perfeccionismo.

“Já que não vai falar disso especificamente, então por que está escrevendo isso?”, você pode perguntar. Calma o coração, meu amor. Obviamente, tudo tem um propósito, e falar sobre isso é trazer o contexto de como estou me sentindo agora.

Antes de junho chegar, eu queria muito elaborar o cronograma perfeito para o meu aniversário. Em cada dia, haveria algo diferente, espetacular, criativo e cativante, algo que fizesse vocês pensarem “Putz, que foda!”. E acho que isso ia muito além do simples desejo de fazer ou aproveitar. O que realmente me pegou foi a necessidade de que tudo estivesse perfeitamente alinhado, cada momento milimetricamente planejado e ajeitado. Eu precisava estar no controle.

Mais do que isso, eu queria transmitir tudo isso para vocês, compartilhar de uma forma que fosse mais do que simplesmente escrever. Tinha que ser O texto, A publicação. Para vocês terem uma ideia, eu estava quase reelaborando todo o site e meu Instagram, porque, na minha cabeça, nada estava bom o suficiente.

Bom, eu tenho meus altos e baixos, apareço e sumo, como vocês podem perceber. E isso acontece porque, quando começo a aceitar e produzir, logo começo a me questionar e pensar: “Não está bom, não está profissional”. Acho que já repeti várias vezes que não faria mais isso, mas entendam, mudar um comportamento que perdura há 22 anos é muito difícil.

Mas, como eu disse, estou trabalhando nisso e, por incrível que pareça, estou até melhorando. Como eu falo para minha psicóloga, em passos de tartaruga, bemmm lento. E, nesses meus picos de racionalização, onde tento entender o que de fato é verdade ou não, resolvi realmente fazer o cronograma perfeito.

Sejam bem-vindos ao Junho do Foda-se! (Desculpa, mãe, pai e familiares, mas não tinha nome melhor para dar a isso). Pela primeira vez, estou pronta para abraçar o caos e direi sim, mesmo quando estiver morrendo por dentro e quiser mudar tudo. E quando digo sim, não estou falando em concordar em pular de uma ponte se alguém me pedir, mas sim em dizer “Foda-se” para todas as pequenas preocupações que antes me paralisavam.

“Não aconteceu do jeito que eu queria? Foda-se. Quero ir de pijama para a faculdade? Foda-se, vambora. Quero publicar algo desorganizado e sem sentido? Foda-se, vou postar. Não consegui elaborar algo para deixar perfeito? Foda-se. Não tenho um cronograma do que fazer? Foda-se, vou deixar a vida guiar e apenas aproveitar.”

Estou pronta para aceitar o caos, para abraçar a imprevisibilidade, e para viver cada momento sem amarras. Estou pronta, 100%? Não. Vou conseguir de fato? Não sei. Mas prometo me comprometer com isso.

Por pelo menos 18 dias, vou me esforçar bastante para realmente não me importar tanto com isso. Talvez vocês estejam lendo isso e pensando “porra, Evelyn, isso é a coisa mais fácil do mundo”, mas podem ter certeza de que para mim não é. Sinto-me sufocada ao pensar que existe uma possibilidade de algo dar errado e eu não ter calculado, e quando isso acontece, me dá um desespero, ou pior, não consigo me movimentar sem fazer toda essa preparação antes.

Um exemplo disso é o meu desejo de retomar o Páginas Pessoais por ser o mês do meu aniversário, para compartilhar essas coisas que quero fazer e realizar. Mas, para mim, sentar e preparar não é apenas pensar “vamos ver o que vou fazer”. Não, eu já preciso pensar em todos os posts até o final do ano e elaborá-los previamente.

Além disso, preciso reorganizar a marca, pensar na paleta de cores, mudar a logo, mudar o site, deixá-lo esteticamente bonito e mais. Por exemplo, ontem foi o dia primeiro de junho, e não fiz nada grandioso. Não elaborei um post magnífico para introduzir junho, nem mesmo um stories só para dizer “oi, estou aqui”, porque é isso, como vou fazer um post aleatório sem ter me preparado para todas as possibilidades que poderiam acontecer e irão acontecer?

Sinto essa culpa de não conseguir fazer um post todos os dias, porque é claro que preciso postar todos os dias, com conteúdos superelaborados e bemfeitos. Precisam estar criativos e cativantes, algo que impressione. Por mais que fale que só queria vir aqui e falar sobre nada, ou simplesmente entender que está tudo bem não precisar fazer isso, me cobro bastante em conseguir. Porque postar um stories por postar não entra na minha cabeça, saca? Preciso elaborar um stories, com vários elementos, postado em determinado horário, com determinada música, transmitindo determinado sentido. Entendem o que quero dizer?

É muito mais complexo do que simplesmente postar. É muito mais difícil do que simplesmente não se importar. E com toda a certeza, é sufocante sentir isso e ter sua mente constantemente dizendo que está falhando.

Bom, acho que já falei demais… Acho que precisava fazer esse desabafo para vocês, mas principalmente para mim mesma. Espero que, ao longo desses 18 dias, eu consiga aceitar esse caos e me permitir reagir com acolhimento, e, principalmente, dar espaço para a Evelyn ser quem ela é.

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