Olá leitores de plantão, como vocês estão?
Bom, sem querer acabei começando o meu mês de agosto do jeitinho que eu queria.
Durante uma conversa com minha colega de trabalho sobre o hábito de leitura, comentei que queria retomar, pois fazia bastante tempo que eu não lia um livro. Ela mencionou que, para manter essa prática recorrente, reserva 10 minutos antes de dormir para ler algumas páginas todos os dias. Achei interessante e pensei em tentar adotar esse hábito, mas brinquei: “deixa virar o mês, né? Então só em agosto”.
Por que temos essa mania de sempre adiar para a próxima semana ou mês? Eu, pelo menos, faço isso o tempo todo. Vou começar amanhã? Não, deixa para a próxima segunda…
Depois dessa conversa, algumas semanas se passaram, e nesse meio tempo minha colega acabou emprestando um livro para outra colega. Quando olhei de relance e vi a capa, automaticamente lembrei que estava na lista dos livros que eu gostaria de ler. Comentei isso com ela, e ela se ofereceu para me emprestar depois que recebesse o livro de volta. Quando ele finalmente chegou em minhas mãos, confesso que coloquei-o dentro do meu armário com a promessa de que, em algum momento, eu o pegaria.
Os dias se passaram e a realização da promessa parecia cada vez mais distante. Até que essas duas colegas começaram a conversar sobre o livro e veio à pergunta: “Você já começou a ler?”
Óbvio que não tinha, mas dentro de mim o que me consolava era a ideia de que, em algum momento, eu leria. Mas ao vê-las comentando sobre o livro (obviamente sem entender nada e elas tomando cuidado para não dar spoilers), fiquei com aquela vontade de participar da conversa, de interagir e fiquei muito curiosa para entender sobre o que elas estavam falando.
Algo dentro de mim ainda estava meio receoso em voltar a ler algum livro, apesar de eu amar leitura desde sempre. Há algum tempo, fui diminuindo o hábito de ler. Claro que muito disso foi por conta do cotidiano, novas demandas e menos tempo, mas sei que houve várias oportunidades de ler que deixei passar… Acredito mais que eu tenha deixado de ler por uma autocobrança minha.
Desde sempre, ler tem sido minha maneira favorita de escapar e me transportar para outros universos. A cada página, eu mergulho em histórias que me empolgam, me fazem sentir raiva, rir, chorar, decepcionar e surpreender. Todas as emoções que vocês possam imaginar, eu já experimentei através dos livros. Ler é uma janela para situações que talvez nunca vivencie na vida real, mas que me fazem sonhar com a possibilidade de um dia se tornarem realidade. Lia livros para me identificar, para não me identificar, para me sentir heroína, a vila, concordar com a protagonista, ou discordar dela, torcer por um casal, ou ficar gritando pra ela sair correndo daquele lugar imediatamente.
Com a criação do Infinito Cotidiano, comecei a sentir uma pressão toda vez que lia um livro. Embora tenha criado o IC para ter um espaço onde pudesse falar sobre livros e compartilhar minhas reações, como em um bate-papo entre amigos, toda vez que terminava uma leitura, eu me cobrava. Em vez de simplesmente sentar e anotar minhas impressões, eu me questionava: “Isso não está crítico o suficiente. Não há nenhuma análise aprofundada de alguma cena. Não há curiosidades que possam agregar.” Mesmo quando publicava algo, a sensação de que faltava algo sempre me acompanhava. O que deveria ser um momento de descontração acabou se tornando um lembrete constante de que eu estava fracassando, que eu era burra, porque se fosse boa o bastante, conseguiria criar conteúdo a partir das minhas opiniões. Gradualmente, fui deixando de ler.
Na faculdade, já estava sobrecarregada com inúmeros trabalhos, referências e análises. O que deveria ser uma leitura banal, eu tentava transformar em um artigo acadêmico. Talvez eu realmente não tenha nada de novo a acrescentar, nenhuma análise que relacione o livro a questões contemporâneas. Já assisti a vídeos incríveis que fazem isso, mas meu objetivo nunca foi esse. O foco era simplesmente ler um livro como sempre fiz, e depois conversar sobre ele, sobre o que gostei ou não, minhas reações. Acabei me cobrando por algo que nem era meu objetivo. Naturalmente, isso se tornou uma grande frustração. E acho que, além disso, com aquela paranoia de produtividade, acabei transformando mais um hobbie em uma obrigatoriedade.
Confesso que parte de mim estava com medo de retomar aquele ciclo novamente. Mas, sendo honesta com vocês, desde quarta à tarde até quinta à tarde, a única coisa que passava na minha cabeça era “preciso ler o livro”. Eu estava morrendo de curiosidade sobre o que era, sobre o que elas estavam falando. Sou uma pessoa muito curiosa, e, juntando isso com a ansiedade, vocês devem imaginar o resultado. E pela primeira vez em muito tempo, senti aquela vontade de ler. Queria ler. Precisava ler.
Também não vou mentir, acredito que muito do que me influenciou foi pensar que precisava devolver o livro o quanto antes, já que eu havia pegado ele há um tempo, e não era meu para deixá-lo na minha pilha de livros de “vou ler algum dia”.
Então, na quinta-feira, por volta das cinco da tarde, levantei da cama e resolvi ler. O livro em questão é Verity. Confesso para vocês que, quando coloquei ele na minha lista de livros, foi muito mais pela capa (desculpa, sei que não devemos julgar o livro pela capa, mas sou humana, às vezes sou hipócrita, e julgo sim. Se a capa me atrai, vou querer ler). Obviamente, sempre busco ler a sinopse antes, porque muitos podem ter uma capa bonita e não serem nada a ver com o meu estilo. Mas este livro fazia tanto tempo que estava na lista que eu nem me lembrava sobre o que era, só daquela capa inesquecível.
Do dia primeiro de agosto até o dia dois de agosto. Foi esse tempo que demorei para ler o livro. Verity é excelente para sair da ressaca literária; é um livro rápido, com uma leitura super fluente, e a autora consegue fazer você ficar a cada página mais e mais curiosa. Não precisa ser necessariamente curiosa para o que vai acontecer, mas apenas para ver se suas teorias estão certas. Verity entrou para minha lista de recomendações. Ao final, abro uma pequena sessão sobre o que achei do livro, mas essa carta, por mais irônico que seja, é sobre o que o livro me fez refletir.
Após terminar, comecei a perceber a ironia das coisas. Por dois dias de agosto, consegui ler o livro como queria, e sem planejar, acabei concluindo. E não apenas isso, mas o livro traz essa questão de autores e o processo de escrita.
Em resumo, o livro conta a história de Lowen Ashleigh, uma escritora à beira da falência, que é convidada para concluir os livros restantes de uma série de sucesso após a autora best-seller Verity Crawford sofrer um acidente que a incapacita. Ela se muda para a casa de Verity e descobre uma autobiografia dessa autora.
Segundo a própria Verity, ela dominava a técnica de escrever sob um ponto de vista que não era dela. Contudo, ainda havia uma necessidade de aprovação de alguém específico. Lowen, por outro lado, diz que gostaria que sua escrita fosse importante para alguém. Uma mesma atividade, objetivos diferentes.
“Nunca há um momento no processo de escrita em que eu sinta que consegui atingir o que queria, ou que estou escrevendo algo que as pessoas precisam ler” (Pág. 46).
“Então, mesmo que haja leitores que amam meus livros, até hoje nunca passei pela experiência de ouvir que o que eu faço tem importância para alguém. Imagino que seria uma sensação boa. Alguém olhar nos meus olhos e dizer: ‘Sua escrita é importante pra mim, Lowen’” (Pág 193).
Pensando nessa dualidade, é irônico também o quão já estive nesse mesmo lugar tanto de querer que ela seja importante para alguém, como de alguma forma buscar a aprovação. E ser exposta a essa diversidade, enquanto eu lia e principalmente após, fiquei pensando muito sobre o tipo de escritora que eu sou. Quando comecei a escrever, achava fascinante a ideia de ser capaz de criar um novo mundo, uma nova realidade. Lembro que um dos livros que mais me impactou durante a infância foi “Alice no País das Maravilhas”, então vocês devem imaginar o quão encantada estava com a possibilidade de, apenas com um lápis e um papel, criar um universo novo.
Durante a adolescência, escrevia para escapar da realidade. Era uma forma de encontrar refúgio em mundos onde eu tinha o controle. Depois, comecei a escrever sobre momentos que eu gostaria de viver, misturando realidade e ficção. Às vezes, imaginava situações que queria experimentar, outras vezes, colocava minhas vivências com um toque de fantasia. Com o tempo, comecei a criar histórias que eu gostaria de ler e ter na minha prateleira.
Agora, no momento atual, escrevo sobre minhas vivências, minhas opiniões, simplesmente sobre a minha realidade. Escrever se tornou uma forma de refletir sobre minha vida, de me conectar com meus sentimentos e de compartilhar um pouco de mim com o mundo.
E, por irônico que seja, o livro traz uma passagem que adorei::
“Um escritor não deveria se atrever a escrever sobre si mesmo, a menos que esteja disposto a remover todas as camadas de proteção que separam sua alma do livro. As palavras previam vir do fundo das vísceras, abrindo espaço entre a carne e os ossos. Feias, sinceras, sangrentas, talvez até um pouco assustadoras, mas completamente expostas.” (Pág. 64).
Achei irônico pelo momento em que estou, mas fenomenal porque é tudo que sempre tentei propor para mim mesma. Por muito tempo, sempre escrevi ficções, contos e principalmente romances, mas quando me propus, pela primeira vez, a escrever sobre mim mesma, tive exatamente esse pensamento. Por que faz sentido me propor a escrever sobre os meus sentimentos e tentar mascará-los através de palavras bonitas? Se quero transparecer o que sinto, preciso ser sincera, preciso estar disposta a mostrar todas as camadas, seja em momentos felizes ou tristes, seja uma hipocrisia ou uma verdade, porque, ao final, sou humana.
ARQUIVO: Bauru, 23 de Março de 2023 – Livro “O Outro Lado Da Psi: Simplesmente Evelyn”
De todos os formatos de livros em que eu poderia escrever nunca me imaginei escrevendo uma autobiografia… Quero dizer, não sei se isto que estou escrevendo se enquadra como uma autobiografia, ou apenas um diário de sentimentos, ou uma apenas relatos de experiências vividas, mas confesso que para mim, desta maneira que estou agora, nunca foi uma opção. No meu ponto de vista, sempre achei que conseguiria escrever um romance best-seller, ou apenas conseguisse concluir uma de minhas historias para poder compartilhar ao mundo um pouco da minha criatividade, já pensei em fantasias, suspenses, mas isso? É algo novo para mim…
(…)
Iria tentar ler um livro sem ficar pensando no que eu posso ou não fazer, iria tentar escrever sem ficar pensando no que eu posso ou não escrever, e por isso estou escrevendo o que eu sinto, o que eu vivi. Porque no final de tudo era só isso que eu gostaria de estar fazendo desde o inicio, mostrar quem eu sou, mostrar que não sou perfeita, mostrar que está tudo bem ter dificuldades, questionamentos e duvidas, mostrar o lado que ninguém mostra que é incerteza de algo, a tristeza que surge de repente, mas também as alegrias com as pequenas coisas. Igual por exemplo, vocês acreditam que eu fiquei extasiada por ganhar uma simples prancheta? São essas coisas que quero expor… Então de certa forma, espero que esse livro me faça lembrar-se de quem eu era, me faça lembrar-se da força de vontade de conquistar tudo que eu quero, me faça aceitar os meus erros e compartilhar essas experiências. Mostrar que ser humana está tudo bem. E, do fundo do coração, espero que isto que estou escrevendo seja algo que de alguma forma tenha alguma importância, porque para mim expor e voltar a escrever é uma das coisa mais importante que estou fazendo desde muito tempo.
Essas reflexões me fizeram pensar em como as coisas vão se ajustando com o tempo. Por mais louco que pareça, percebo hoje que meu relacionamento com a escrita evoluiu ao longo dos anos, passando do encantamento ao refúgio, da exploração de sonhos à realidade. Cada palavra que escrevo é um pedaço de mim, uma parte do que tenho para dizer. Quero viver minha vida e, consequentemente, transmitir na minha escrita: autenticidade e verdade.
Lembrar a mim mesma que sou humana e me permitir ser vulnerável, me permitir ser corajosa, sem medo de julgamento e sem me esconder atrás de metáforas e frases vazias. Permitir-me autoconhecer e me expressar de maneira genuína. E, talvez, essa seja a verdadeira magia da escrita: a capacidade de transformar, não apenas o papel, mas a nós mesmos.
Se me perguntarem qual dessas autoras eu sou neste momento? Acredito que, no final, sou um pouco de todas elas. Poderia dizer que amadureci e melhorei, o que de fato aconteceu, mas não posso negar que cada uma dessas fases foi essencial para me levar até aqui. Cada forma de escrita, cada temática, cada tentativa foi um processo que me trouxe até o presente. E, embora hoje eu escreva sobre minhas vivências, isso não significa que não possa escrever um romance amanhã, ou uma aventura bem clichê daqui a dois meses, entendem?
Pensando em todo esse processo, aos poucos começo a retomar o motivo pelo qual amava ler e escrever. Porque, no final, não é sobre cumprir uma meta ou agradar alguém, mas sim sobre a conexão com as histórias que cada palavra transmite. É sobre se perder e se encontrar…
Opinião Sobre o Livro (SPOILERS – tentei deixar meio implícito, mas ainda tem):
TODO MUNDO LOUCO! TODO MUNDO PRECISA DE TERAPIA! Me desculpem, mas é isso.
Carta ou Manuscrito? Tenho absoluta certeza que o manuscrito é real. Acredito fielmente nisso, porque há muitas inconsistências na carta. Se ela realmente queria fugir, teve várias oportunidades, principalmente quando saíram da casa para o restaurante. Se a desculpa é que ela não tinha dinheiro, isso não faz sentido, já que todo o dinheiro era da Verity e nem todo mundo sabia que ela estava de cama. Ela poderia facilmente ter ido a um banco e retirado algum dinheiro. E, sinceramente, QUE MÃE EM SÃ CONSCIENCIA ESCREVERIA ISSO? Não dá para engolir.
Antes de ler o capítulo extra, eu achava que o Jeremy era um santo, ou pelo menos que ele não tinha grandes problemas. Eu tinha minhas suspeitas, claro, porque nenhum homem é perfeito demais. Mas, como estou acostumada a ler romances clichês, talvez eu não tenha percebido o quão manipulador ele realmente é e como usa isso em benefício próprio. Depois de ler o capítulo extra, minha ficha caiu, e eu pensei: QUE DESNECESSÁRIO! FOI HIPER MEGA DESNECESSARIO!!
Lowen, para mim, foi uma protagonista que me deixou estressada. SAFADA E PIRANHA QUE QUERIA PEGAR MACHO CASADO! A esposa dele era uma louca psicótica? Sim, mas não consigo passar pano para ela. A mulher era inteligente, mas parecia que ficou burra por causa do desejo que sentia por aquele homem. Pelo amor de Deus, que raiva que me deu! E é tão hipócrita, porque ela criticava a Verity pelos inúmeros capítulos de cenas de amor com o marido dela, mas na maior parte do tempo estava só pensando em ficar com o Jeremy. Ai, juro, (desculpa, mãe e pai pelas próximas palavras), mas que pica de mel é essa que ele tem? Jesus, as duas pareciam ficar burras do lado dele. Bom, enfim, fiquei irritada? Sim. Mas super recomendo para vocês lerem e tirarem suas próprias conclusões. As portas estão abertas para comentarem comigo sobre isso!