Olá leitores de plantão, como estão?
Quem me acompanha nos stories viu que recentemente fui assistir a um filme que mexeu bastante comigo, o “Divertidamente 2”. O filme, no geral, é excelente e já sei que vou revisitar várias vezes, principalmente para preparação de atendimentos. Mas preciso admitir que, mesmo com 23 anos, foi um dos filmes que mais me fez sentir identificada!
E tudo isso por causa da ansiedade, que é justamente sobre o que quero falar hoje.
Acho que vocês já perceberam, e eu já comentei aqui antes, que sou uma pessoa ansiosa. O filme, de uma forma lúdica e sensível, retratou como essa “companheira indesejada” atua na vida de quem a carrega. Foi uma maneira criativa de tentar fazer as pessoas entenderem o quão sufocante e desgastante pode ser lidar com ela diariamente. Como alguém que vive nesse cenário, sempre preocupada com o futuro e com o que pode dar errado, posso afirmar com 100% de certeza: é péssimo pra p*rra. É como se uma tempestade estivesse sempre prestes a desabar sobre minha cabeça. Mas, ao sair da sala de cinema, fiquei me perguntando: o porquê retrataram a ansiedade como vilã?
Quero dizer, muito das pessoas que saíram desse filme entenderam sim o quão a ansiedade ao extremo faz mal, e de fato, faz mesmo. Mas senti que, por trás dessa narrativa, muita gente esqueceu que a ansiedade é, antes de tudo, uma emoção natural. E está tudo bem senti-la.
O que mais ouvi depois do filme foram pessoas associando a ansiedade a algo negativo, algo que precisa ser controlado, eliminado, como se fosse um inimigo a ser derrotado. Vi várias crianças comentando o quão a ansiedade era do mal e o quão ela era ruim e tentou “acabar” com a alegria da Riley. Mas será que precisa ser assim? Por que não podemos simplesmente aceitar que ela faz parte de nós, como qualquer outra emoção? No final das contas, a ansiedade foi representada como algo que devemos superar ou afastar. Mas será que é justo vê-la dessa forma?
No primeiro filme, uma das mensagens mais marcantes é que cada emoção tem um papel crucial, ajudando-nos a navegar pela vida com suas características únicas. Assim como a Alegria traz cor e brilho aos nossos dias, a Tristeza nos ensina a valorizar os momentos de consolo e reflexão. E, curiosamente, todos acolheram a Tristeza, quase como se ela fosse uma vítima. Mas se pensarmos bem, a Tristeza pode ser tão desconfortável quanto a Ansiedade, e ninguém gosta de senti-la. Então, por que saímos do filme sem questionar o quanto estamos naturalizando a Ansiedade como algo puramente negativo?
Vamos refletir juntos. Quando retratam a Ansiedade como algo que deve ser eliminado ou superado, isso contribui para a naturalização de uma visão negativa dessa emoção na vida real. Ao vermos personagens lutando contra a Ansiedade como se fosse uma vilã, reforçamos a ideia de que não deveríamos sentir essa emoção. E consequentemente, essa representação pode levar à crença de que a Ansiedade é algo a ser temido ou evitado a todo custo, quando, na verdade, ela é uma parte normal e necessária de nossa experiência emocional.
É como se estivéssemos perpetuando a ideia de que sentir Ansiedade é um fracasso, quando, na realidade, ela apenas nos mostra que algo importante está acontecendo em nossas vidas.
Pode parecer repetitivo, mas é fundamental enfatizar: a Ansiedade é apenas uma emoção, como qualquer outra. É normal sentir-se ansioso antes de uma prova importante, ao conhecer alguém novo ou ao se preparar para uma apresentação. Essas formas de Ansiedade não são sinais de um problema, mas sim respostas naturais a situações que nos desafiam.
A Ansiedade pode sim nos ajudar, nos preparar, nos fazer dar o nosso melhor. Nem toda Ansiedade é necessariamente patólogica, muitas vezes, é justamente essa emoção que nos lembra que estamos vivos, e isso, no fundo, é o que nos torna humanos.
Só que ultimamente, apesar de eu ficar muito feliz ao ver como a saúde mental está sendo mais abordada e propagada para todos, e reforço, isso é fantástico. Entretanto, com isso, vem as propagações do que não necessariamente seja o certo. Não necessariamente aqueles que estão falando sobre o assunto tem de fato propriedade para falar. Ou melhor, quando não é apenas no intuito de vender uma mercadoria, com o intuito puramente comercial.
Com isso, criou-se uma tendência preocupante: a busca por diagnósticos como uma forma de ser aceito, compreendido, ou simplesmente para ter algo a dizer. A situação chegou a um ponto em que ser diagnosticado com algum transtorno se tornou quase uma moda, um selo de identidade, quando, na verdade, nem sempre há algo para diagnosticar. Uma crescente naturalização de que tudo é ruim, esse adoecimento frenético por coisas, que pasmem, são normais à gente vivenciar.
Hoje em dia, é comum ouvir alguém dizer que tem Ansiedade ao primeiro sinal de nervosismo ou preocupação, assumindo que qualquer manifestação de Ansiedade é automaticamente ruim e precisa ser tratada. Mas precisamos entender que nem toda Ansiedade é patológica, assim como nem todo sintoma é um diagnóstico. Se eu pegasse o DSM-IV e começasse a listar os critérios aqui, tenho certeza de que todos se identificariam com pelo menos uns cinco diagnósticos (e olha que estou sendo generosa). Porque é isso, são coisas normais que acontecem no nosso dia a dia. Diagnosticar alguém não é uma tarefa simples; é um processo que leva tempo, exige considerar o contexto familiar, profissional, escolar e social da pessoa, entender seu histórico de vida, suas rotinas e desafios diários. Repetindo, LEVA TEMPO! Então, como podemos naturalizar algo tão complexo, com um tempo significativo de investigação, com base em um vídeo de três minutos no TikTok?
Além disso, estamos colocando todas as patologias em caixas estigmatizadas, quando o verdadeiro foco da Psicologia é a subjetividade do indivíduo. E o contexto da pessoa? Sua história de vida? O que ela enfrenta diariamente? Será que é o mesmo daquela que postou o vídeo? Enfim, esses são questionamentos que precisam ser mais debatidos. Para mim, o que deveríamos estar naturalizando é a ideia de que nem tudo é patológico e que está tudo bem em ser apenas humano. Nem toda emoção precisa de um rótulo, nem todo desafio precisa de um diagnóstico. E está tudo bem viver e sentir as coisas como elas são, sem a necessidade de encaixá-las em uma caixa.
Que top esse ponto de vista 🤩🤩