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Bauru, 25 de Julho de 2024

Bauru, 25 de julho 06:37 a 26/07/2024 16:05
(dentre pausas e obrigações, a inspiração estava latente de mais)

Olá leitores de plantão, como estão?

Bom, já vou logo avisando, se preparem, peguem a pipoca, porque essa carta vai ser longa…

Como eu disse, muitas coisas aconteceram que eu não escrevi. Queria, mas não escrevi, então acabou que juntou e virou uma bola de neve. Agora, vocês terão que aguentar textos longos. Mas acreditem em mim, apesar de longos, todos os detalhes que irei relatar são importantes para vocês entenderem como cheguei ao ponto onde estou agora. Todos esses fatores influenciaram esse a esse momento atual. E, acredito também que, apesar de extenso, vocês terão uma ideia do quanto tempo isso levou e que, apesar de querermos, as coisas não acontecem do dia para a noite.

Para entendermos melhor, teremos que voltar lá para meados de maio. Nessa época, eu estava sendo introduzida ao perfeccionismo, entendendo como ele estava presente na minha vida. Enquanto isso se desenvolvia, minha crença de “não ser boa o suficiente” estava muito forte. Eu me sentia uma fracassada em tudo: nos relacionamentos, nas questões sociais, na autoestima, especialmente no âmbito acadêmico e profissional.

Ao mesmo tempo, minha amiga que morava comigo estava se mudando, pois havia acabado de se formar. Aos poucos, o desespero de que o final estava se aproximando e a visão negativa de que eu não tinha nada pronto, nada definido, sem ideia do que queria para minha vida ou para onde ir, tornaram-se muito fortes.

Juntamente com isso, veio o sentimento de estar falhando, de que deveria estar me esforçando mais, estudando mais, fazendo mais coisas para o currículo. Vale ressaltar que eu trabalhava pela manhã, fazia estágio obrigatório à tarde, tinha faculdade à noite e ainda me envolvi em três monitorias. Isso gerava uma culpa muito forte em mim, uma sensação de estar ficando para trás, de que o tempo estava passando e eu não estava me dedicando o suficiente a nada. Eu me sentia uma burra constantemente, me questionava todos os dias e afirmava para mim mesma que seria uma péssima profissional. Afinal, apesar de tudo que já fazia, é claro que eu deveria estar estudando nos meus 15 minutos de lanche no trabalho, porque tudo isso ainda parecia muito pouco.

Naquela época, em meio a surtos de ansiedade, exaustão e estresse, essa mesma amiga me mandou uma foto de uma carta que eu escrevi para ela em um dos meus aniversários. Como lembrancinha, eu resolvi escrever uma carta para cada pessoa presente na festa (uma fofa, né?). Parando para pensar, acho que esse foi o estopim para desencadear tudo até agora. É engraçado como, às vezes, focamos em uma coisa específica e deixamos passar outras que, mesmo despercebidas, têm um impacto tão profundo.

O que deveria ser uma lembrança feliz se transformou em uma cobrança. Comecei a lembrar das lembrancinhas e presentes que eu adorava fazer, mas me sentia fracassada por não estar dando a devida atenção às pessoas ao meu redor e não fazer essas coisas como antes. Isso começou a pesar de uma forma negativa, porque eu me sentia falha em demonstrar carinho e afeto. Sei que não sou a pessoa mais carinhosa do mundo, mas naquele momento parecia que eu tivesse cometido um assalto a um banco e estivesse nos noticiários como a ladra mais procurada, mesmo sabendo que isso não era verdade.

Como vocês bem sabem, minha mente é frenética, então mais três pensamentos estavam presentes em paralelo a isso. Com algumas coisas que aconteceram e as aulas na faculdade sobre luto, comecei a retomar uma questão que sempre me incomodou. Acho que por nunca ter vivenciado o luto de pessoas muito próximas, no sentido de convívio diário, não sei elaborar muito bem essa temática. Presenciei o velório do meu avô, mas eu era bem pequena e lembro apenas de prometer para mim mesma nunca mais voltar a um velório. Mas isso é tema para outra carta.

Com tudo isso, comecei a perceber que não estou preparada para perder alguém. Já perdi inúmeras amizades, mas me refiro ao sentido de a pessoa não estar mais aqui. Quando se perde uma amizade, você pode stalkear a pessoa ou mandar uma mensagem, mas como seria se a pessoa simplesmente não estivesse mais ali?

Percebi que não estou preparada para perder meus pais. Passei semanas chorando só de imaginar não poder ligar para minha mãe para contar uma novidade, fazer piadas para irritar meu pai, não almoçar mais juntos na mesa ou mesmo ir ao centro como sempre fazemos. Com isso (alerta de spoiler, mas essencial para compreensão), resolvi que queria fazer uma lembrancinha para meus pais e para meu/minha tio(a) no meu aniversário. Ideias vieram e foram, mas decidi fazer um documentário sobre eles e, ao final, ler uma carta explicando o intuito de tudo aquilo.

Nessa carta, eu também explicaria por que escolhi fazer um documentário, o que se relaciona com o segundo e o terceiro pensamento que estava tendo. O segundo era que eu queria começar a registrar mais momentos, tirar mais fotos, fazer mais vídeos. Comecei a perceber que não tinha muitos registros com meus pais, poucas fotos e vídeos…

Existem vários momentos que gostaria de relembrar, porque eu sei que aconteceram e foram magníficos, mas não tenho um registro sequer desses momentos. Isso começou a me atormentar, não que eu queira ser aquele tipo de pessoa que grava 24 horas por dia, mas às vezes é legal fazer um vídeo, ter uma foto, relatar momentos. Estamos na era da tecnologia, registrar momentos é a coisa mais fácil de se fazer, então por que diabos eu não tenho nada dos momentos que passei?

E também comecei a pensar no futuro, em como muitas coisas que vivi estão sendo esquecidas na memória. Sabem? Pensem comigo, nós vivemos 365 dias no ano. Você acha mesmo que daqui a 50 anos você irá se lembrar do que fez neste exato momento? Porque, se me perguntarem o que estava fazendo no primeiro domingo do mês passado, eu não lembro. Conseguem entender? Sei que os momentos mais impactantes ou importantes vão ficar, mas e se algum dia eles deixarem de ser? E sem contar aquela sensação gostosa de nostalgia, aquele sorriso bobo que você solta ao lembrar daquele tempo que viveu, daquela viagem que fez, daquele encontro especial, tudo isso por conta de uma foto ou vídeo.

Com essa ideia em mente, tive um desejo muito forte de voltar para o Páginas Pessoais, de publicar, de postar as coisas que faço, como sempre falei para vocês, daquele jeitinho autêntico. Esse foi o meu terceiro pensamento. Queria compartilhar o meu dia a dia, o documentário que eu iria fazer, o processo dele. Porque de certa forma, ao publicar essas coisas, eu sabia que no futuro eu estaria folheando um álbum de fotografias virtuais, sorrindo ao ver cada imagem e cada instante, cada cena, cada descoberta, cada momento capturado, como se estivesse virando páginas de um álbum e revivendo cada sensação, como se fosse o meu livro de memórias, a minha cápsula do tempo, apenas com um toque no meu celular.

Mas, se perguntarem a eles, esse documentário nunca chegou ao conhecimento deles. E eu juro a vocês que está nos meus planos fazer. Conforme eu fui buscando as fotos e algumas informações, comecei a perceber que não sei nem 10% da vida dos meus pais. Como teria autonomia para retratar a vida deles se não sei nada, entendem? Então está nos meus planos, mas quero fazer isso com eles, sentar um dia, fazer uma entrevista, gravar. Acho que isso é algo que tem que ser construído em conjunto, e isso atingiria o objetivo do documentário: registrar a história deles de alguma forma, deixar documentado para que, se algum dia eles partirem, eles tenham deixado um pedacinho deles neste mundo, mesmo que seja só para as pessoas que os conheceram. E qual a melhor forma de deixar este registro do que eles próprios contando suas histórias?

Bom, com tudo isso na cabeça, principalmente a ideia de voltar com o Páginas Pessoais e fazer esse documentário, esse sentimento de fracasso ficou muito forte. Porque, como eu disse, tudo isso estava acontecendo em meados de maio e meu aniversário era em junho. Pergunto-lhes: vocês acreditam mesmo que, com tudo que eu estava fazendo, eu conseguiria realizar as duas coisas? Era óbvio que não, mas eu não conseguia ver que era uma questão de “você já tem muita demanda e não está sobrando tempo”, mas sim como “você está falhando em mais duas coisas”. Porque, apesar de eu sempre falar que não irei me cobrar, que isso é algo para mostrar quem eu sou, eu ainda me cobrava muito. É aqui que meu perfeccionismo entra em cena (não só aqui, mas acho que aqui ele é bem visível).

Para voltar com o Páginas Pessoais, eu precisaria fazer um cronograma de posts, pensar no que iria fazer, reformular tudo: cores, site, tudo, porque, pasmem, eu não estava contente com nada dele, queria mudar tudo de novo. Mas simplesmente não tinha tempo. Só que, quanto mais os dias passavam, mais eu ficava frustrada comigo e me torturava porque não tinha feito este planejamento. O tempo estava passando, a data para eu terminar as coisas tanto do documentário quanto do Páginas estava chegando e eu não havia feito nada. Precisava fazer toda essa reformulação do Páginas enquanto fazia as gravações do documentário, para conseguir postar o processo do documentário, para gravar eles recebendo a surpresa e poder postar. Porque outro ponto do perfeccionismo que pega muito forte é: se fiz o planejamento, preciso cumprir à risca do que está anotado. E era óbvio que isso não ia acontecer, o que geraria mais frustração e mais autocobrança. Ciclo dos infernos, né?

E com tudo isso em mãos, nasceu as Meninas Superpoderosas. Brincadeira, só um surto psicológico mesmo. Tá, agora é sério: eu fiquei muito mal mesmo, e foi nesse ponto que retomamos para a minha terapia. Muitas coisas aconteceram, muitas conversas, muitos desabafos. Entre esses momentos, tive uma conversa com minha psicóloga que ressoou profundamente na minha mente. Não foi apenas esse momento que mudou tudo e foi divisor de águas, porque todas as sessões, como ela inteira é importante, mas esse fato específico abalou minhas estruturas, como sempre acontece.

Eu sempre falo para minha psicóloga que adoro nossas sessões, porque, apesar de ela sempre me deixar com uma placa imensa escrita “REFUTADA”, eu fico com uma pulga atrás da orelha pós-sessão. Isso repercute na minha mente a semana toda, tentando achar exemplos onde isso acontece, alguma situação, algum pensamento, enfim…

Um dos pontos que discutimos foi sobre o que eu considerava uma pessoa fracassada. Logo afirmei ser uma pessoa que não tenta. Alguém que tem as condições necessárias para fazer algo que ela própria quer, mas simplesmente nem tenta e só desiste (desconsiderando os casos onde não há possibilidades). Por exemplo, um homem de 30 anos, super rico, que ainda mora com os pais, não faz nada da vida além de assistir séries e jogar, e que não se interessa por nada. Deu para entender? Bom, espero que sim, porque duvido que você nunca tenha assistido a algum filme de comédia que satiriza esse tipo de pessoa!

Enfim, aí ela me perguntou se, nessa concepção que eu trouxe, eu me considerava uma pessoa fracassada. E eu disse que não, porque eu me esforço bastante. É o que sempre brinco com todos: “Eu sou esforçada, e meu irmão é inteligente”. Logo, R E F U T A D A.

De princípio, para mim aquilo fazia sentido racionalmente, mas internalizar que “eu não sou fracassada” era muito difícil, porque até então, na minha cabeça, eu estava falhando em absolutamente tudo. Mudar o pensamento de “estou falhando nisso” para “eu estou tentando e me esforçando para” é muito mais difícil do que vocês imaginam. Posso afirmar que, até o presente momento, ele ainda não se modificou totalmente na minha cabeça. Há vários momentos em que esses pensamentos de estar falhando vêm de maneira automática, e parar para questioná-los, no sentido de “vamos ver se é verdade”, é muito mais complicado do que simplesmente aceitar e concordar com tudo que a mente diz. É como se houvesse um anjo e um demônio em sua mente, mas, na verdade, é apenas você lutando com seus próprios pensamentos e sentimentos. Após essa conversa, e tenho registro para comprovar, escrevi nas notas do meu celular para sempre me lembrar: “Dou o meu melhor naquilo que me proponho a fazer dentro do contexto inserido e das condições possíveis”.

(Bônus: A ideia do documentário)

Evelyn, o que diabos isso quer dizer? Isso significa que em tudo o que eu me proponho a fazer — seja um atendimento, uma matéria na faculdade, uma lembrancinha, um relatório — eu me dedico ao máximo dentro das minhas possibilidades. Se estou com a minha carga horária absolutamente cheia, não tem como eu fazer algo que leve cinco dias quando eu só tenho cinco horas para elaborar. Minha dedicação é baseada no momento em que estou e nas condições que tenho, sejam elas financeiras, físicas ou psicológicas. Por exemplo, se não tenho condições de comprar uma clínica, por que vou me culpar por não estar construindo uma? E se estou exausta depois de uma semana inteira de trabalho, por que vou me culpar por passar uma tarde deitada assistindo série, sendo que meu corpo precisa disso e eu não tive nenhum momento de lazer durante a semana toda?

Por muitas semanas, e até hoje, todas as vezes que vou me culpar, principalmente por questões externas a mim, tento repetir essa frase na minha mente. Isso tem me ajudado muito. Mas, como vocês podem ver, essa reflexão foi escrita praticamente na primeira semana de maio, e só agora, no final de julho, ela está realmente começando a fazer sentido para mim. Não vou ser cínica e dizer que sempre faço isso, porque muitas vezes esses pensamentos intrusivos vencem. Mas o esforço de lembrar que estou fazendo o meu melhor, dadas as circunstâncias, é um passo importante.

E então veio o “Junho do Foda-se” e, finalmente, as minhas férias, que me trouxeram ao ponto onde estamos hoje. Como disse no último post, alguns parágrafos acima e repito agora: a terapia me ajudou muito. Durante aqueles dez dias, eu comecei a não me preocupar tanto com as coisas. Eu sabia que tinha alguns objetivos, mas adotei a regra de “vou fazer quando eu sentir que quero fazer”, no sentido de querer/ter vontade e não no sentido de querer/obrigação.

Um ponto muito forte que ainda estava na minha mente era o desejo de voltar com o Páginas Pessoais, algo muito discutido em algumas sessões. No início das férias, assisti “Divertidamente 2”, debati horrores na terapia e até escrevi um post sobre o filme. Queria postar, tipo, eu queria muito postar. E durante esse período das férias, eu até tentei postar coisas que estava fazendo nos stories pelo menos, mas, gente, eu não fiz nada, então não tinha nada para postar. Comecei a me sentir muito mal. Porque olhem o cenário: eu já não estava contente com as Páginas Pessoais, estava com um desejo imenso de reformular, eu olhava para ele e não sentia alegria e automaticamente vinha “reformular”. E consequentemente, eu só conseguia pensar que precisava elaborar posts bonitos, deixar o perfil do Instagram mais profissional. E além de tudo isso, comecei a me sentir mal com a minha própria vida, sabem?

Quando falamos de “perfil profissional no Instagram”, automaticamente penso em produção frenética de conteúdo, e não apenas isso, mas uma produção hiper mega fodástica de conteúdo, super produzido, elaborado, postado em horários determinados. Não tinha conteúdo suficiente para agregar à minha página e comecei a questionar minha vida real, o quão sem graça ela era. Ficava me questionando por horas e horas sobre o que eu estava fazendo de errado. Queria fazer várias coisas, mas nunca dava. Não tinha nada para postar ou compartilhar. Aquela frase que mencionei foi essencial para eu não ir à ruína com isso, porque, gente, como vou postar um prato de restaurante por dia se não tenho dinheiro para almoçar em restaurante todo dia?

Debatemos muito sobre essa produtividade tóxica, de querer produzir conteúdo o tempo todo. Não pode ser qualquer conteúdo, tem que ser perfeito. Tem que passar uma imagem perfeita, sem defeitos, sem falhas, sempre bonito e apresentável, e até roteirizado às vezes. Uma vida perfeita demais e simplesmente irreal. Relatei à minha psicóloga que me percebi muito hipócrita. Apesar de criticar tudo isso e sempre bater o pé dizendo que quero produzir um conteúdo que não tenha que me importar com essas coisas, eu acabo me importando. No final do dia, estou pensando em um lugar que seria interessante para tirar uma foto. Se faço um prato, tento arrumá-lo de um jeito instagramável.

E depois de um bom debate, ela trouxe um questionamento que me fez refletir profundamente: “Você acha que não quer postar porque tudo precisa ser perfeito, como você relatou?” E sim, realmente sim. Durante essa discussão, percebi que, de uns tempos pra cá, transformei meu hobby em uma obrigatoriedade. Minha psicóloga me fez ver que eu escrevo por hobby, gosto de tirar fotos por hobby, faço colagens por hobby, enfim, várias coisas, mas tudo isso por hobby. E, se pensarmos na definição de hobby, é algo que você faz por prazer. Ou seja, se há algo que no momento precisa de mais atenção, deixamos de lado o hobby. Ela me perguntou: “Se você tiver que entregar um relatório da faculdade, você vai dar prioridade a isso ou a escrever?” Respondi a faculdade, porque no momento em que estou, minhas prioridades são a faculdade e o trabalho.

Ela me fez perceber que, quando coloco meu hobby como uma obrigatoriedade, ele deixa de ser um hobby e perde seu prazer. Ainda que eu o trate como uma obrigação, ele continua sendo um hobby, e priorizo outras coisas mais importantes naquele momento. Isso acaba me frustrando e fazendo com que eu me sinta como se estivesse falhando. Resumindo: outro ciclo de frustração.

Essa conversa mudou minha perspectiva sobre tudo. Está tudo bem, às vezes, não ter conteúdo para postar. É impossível uma pessoa normal atingir esse patamar de perfeição. Mas acho que o mais importante, lembrei-me de que isso é um hobby. Parece bobo, mas é isso, eu não preciso me sentir culpada por não estar escrevendo dia sim e dia não. Na verdade, eu só paro para escrever quando bate aquela vontade no meu coração, quando sinto que tenho algo verdadeiro para dizer. Escrevo simplesmente o que estou pensando, sentindo e vivendo naquele momento. E, no fim das contas, não dá para forçar uma vontade, e muito menos um sentimento.

Eu estava insatisfeita com o “Páginas Pessoais” porque o tratei como uma obrigação, e por isso não estava tão contente. Já estava querendo mudar de alguma forma e comecei a considerar criar um perfil profissional de psicologia (tema para outra carta também). Pensei em apagar meu Instagram pessoal e juntar com o “Páginas”, já que ambos tinham o mesmo objetivo e eu não usava tanto o pessoal (se vocês me achavam sumida no “Páginas”, no perfil pessoal eu era pior, garanto). Mas me perguntava: “Se eu criar meu perfil profissional de psicologia, como vou administrar três redes sociais, sendo que quero fazer tudo perfeito?”

Em um simples dia, refletindo sobre tudo isso que relatei, com o pensamento de juntar os Instagrams, com aquela pulga das minhas terapias atrás da orelha e simplesmente não me cobrar tanto nessas férias, surgiu um nome na minha mente, dando origem ao “Cartas para o Mundo“.

Comecei a recordar das cartas que já escrevi e a refletir sobre como o conceito de uma carta se encaixa no mundo de hoje. Antigamente, alguém escrevia uma carta hoje, e a outra pessoa só a recebia dias depois. Era curioso ler a data de, por exemplo, 5 de janeiro, sabendo que era, na verdade, 10 de janeiro quando a carta chegava. Além disso, a titulo de curiosidade, quando eu era mais nova, criança mesmo, eu “trocava” cartas com uma pessoa que eu considero da minha família, a Sandra. Isso me levou a pensar em como seria interessante adotar esse formato para meus posts. Eu poderia escrever algo em um dia e só postar em outro, mas sempre datado do momento em que foi escrito. Assim, poderia dar prioridade a outras coisas, mas ainda manteria o prazer de criar quando tivesse vontade.

Além disso, comecei a relacionar essa ideia com o desejo de registrar mais da minha vida. Às vezes, poderia fazer um vídeo em uma data específica e só postar em outra, datado como uma carta. Unir os meus Instagrams parecia mais sensato do que nunca. Afinal, se é um hobby, nada mais é do que um blog pessoal. Então, por que ficar dividindo algo que se não da pra dividir? Apenas se tornar mais repetitivo e me frustrar mais?

As pulgas atrás das orelhas ecoavam uma frase marcante que minha psicóloga disse: “O Páginas é muito mais do que você posta.” Isso fez sentido para mim e acho que deu uma apaziguada naquele sentimento de “vida sem graça”. Todos os dias acordo e vivo minha vida. Não viajo todo final de semana, não saio todas as sextas, não peço comida todos os dias ou preparo receitas elaboradas. Mas acordo todos os dias e vejo pessoas, assisto a uma série, jogo um jogo—estou vivendo uma vida comum. Posso não ser alguém altamente relevante, posso não ter um propósito grandioso neste mundo, mas estou aqui e estou construindo minha própria história, assim como todo mundo. Pode parecer normal em comparação com a imposição da vida perfeita e inatingível, mas é a minha história.

E assim como eu queria registrar a história dos meus pais de alguma forma, também desejo deixar um pedacinho de mim neste mundo. Para quem escrevo minhas cartas? Pode ser para o mundo, para todos que estiverem dispostos a ler, para meus familiares, amigos, ex-colegas que querem saber como estou, para uma pessoa aleatória, para as coisas que gosto, para as coisas que não gosto, para mim mesma, para meus futuros netos que poderão comentar sobre o blog da vovó, ou até mesmo para ninguém. Mas, de alguma forma, sei que minhas cartas contarão a minha história e dirão que eu estive aqui.

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