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Bauru, 26 de Julho de 2024

Autocuidado: A Pausa que Cura

Saudações meu caro leitor… Brincadeiras a parte, não é porque estou escrevendo as cartas que vou deixar o meu bordão de lado! Olá leitores de plantão, como vocês estão?

Queria escrever isso há muito tempo, mas finalmente estou de férias, meus amores. Pela primeira vez, em muito tempo, estou fazendo absolutamente N A D A! E, surpreendentemente, não estou me sentindo tão culpada por isso.

Tem tanta coisa acontecendo internamente e tantas coisas que gostaria de compartilhar, que sinto que deveria ter escrito quando estava no pico das emoções. Agora, nem sei por onde começar. Vou tentar organizar meus pensamentos de forma que faça sentido. Afinal, estou de férias, mas a Evelyn organizada ainda não saiu de mim.

Confesso que me sinto como uma criança que precisa entregar a atividade pós-férias, relatando tudo o que aconteceu, mas deixou para a última hora e não se lembra de nada. No meu caso, realmente não tem muita coisa para lembrar, porque, como disse, eu não fiz nada (vou repetir várias vezes, porque vocês não sabem a sensação de dizer isso sem sentir culpa, juro!). No entanto, considerando como minha mente é frenética, fica difícil lembrar todos os pensamentos que emergiram até eu chegar às conclusões atuais. Então, me perdoe se meu relato não estiver 100% fiel à realidade. Mas, se você é um bom leitor, deve saber que nunca se deve confiar completamente em um narrador…

Sabe, esses dias de férias me fizeram perceber algo precioso: a importância de simplesmente existir. Tive tempo de olhar para dentro, de me escutar sem a pressa do dia a dia. E, apesar de não ter feito nada em termos de produtividade, fiz muito em termos de autoconhecimento.

Bom, inicialmente, no começo das férias, eu estava com aquele desgaste horrível de final de semestre. Ah, verdade, lembram-se do “Junho do Foda-se”? Bom, foi bem legal, por muitos momentos eu percebi que “não surtar” me poupou muito tempo, mas ao mesmo tempo, eu entendi que “reprimir” a emoção não é o mesmo que melhorar, entendem? Durante todo o mês, eu realmente evitei surtar a todo custo, mas isso não significava que eu estava lidando com a situação de forma saudável, transformei aquela sensação em uma folha de papel e a atirei para dentro de uma fogueira, vendo-a se transformar em cinzas. E meus queridos, uma hora tudo isso volta, né? O mundo gira, a catraca também. Achei que isso não iria voltar, mas quando vi, ela renasceu como uma fênix, me atacando com uma avalanche de sentimentos intensos.

Aí, juntou isso com o esgotamento, e eu nem tive opção: meu corpo falou por mim, ele mesmo decidiu descansar. Mas, ao mesmo tempo, foi o momento em que eu mais me senti culpada por não fazer nada e ansiosa, porque na minha bela cabeça eu tinha determinado que eu era OBRIGADA a decidir a minha vida do ano que vem nessas férias. Juro, eu até ia perguntar o que se passa na minha cabeça, mas aí eu ia me complicar mais, porque eu realmente sei o que passa na minha cabeça e mesmo assim me coloco nessas situações.

Apesar da culpa, eu entendi que meu corpo precisava de uma pausa. Comecei a pensar já em agosto, quando a correria voltasse, e que eu não teria mais nenhum tempo em que eu poderia simplesmente chegar do trabalho, comer, deitar na minha cama e assistir uma série, jogar ou simplesmente dormir. Então aceitei e decidi tirar uma semana para descanso, atualizar as séries, dormir muito e muito mesmo.

Durante a minha terapia, minha psicóloga fez uma proposta para mim: ela sugeriu aumentar para 10 dias. Bom, topei. No começo, surtei um pouquinho, achando que não ia conseguir, mas o que eram apenas dez dias já se tornou julho inteiro.

E a terapia vai ser importante nessas férias, porque a partir do “aceito tirar 10 dias”, sem eu perceber, pela primeira vez, senti que eu aceitei respeitar meu tempo, sacam? E a partir disso, foi muito importante para tudo que vem pela frente. Porque, pela primeira vez, deixei realmente as coisas acontecerem. Sabe a música “deixa acontecer naturalmente”? Pra mim, neste momento, nunca fez tanto sentido. Porque, apesar de eu não deixar meus objetivos de lado, porque queria concretizá-los, pensar no futuro, ter uma ideia, eu não me forcei a ter que sentar e decidir. Eu não me forcei a tirar todas as tardes para fazer pesquisas ou fazer listas imensas de objetivos inalcançáveis que iriam me frustrar. E pela primeira vez, e apesar de MUITO ESTRANHO, eu vi que não me colocar nesse lugar de perfeição inatingível me trouxe algum benefício, ao invés de ter outro surto.

Respeitar o meu tempo de compreensão, de entender meus sentimentos, entender o que eu quero e o que não quero, pensar com calma, pensar por 5 minutos em um dia, às vezes passar 1 hora pesquisando no outro, mas entender quando eu sentir vontade de fazer, isso foi o mais importante.

Foi fácil? Não! Curto e grosso. Estamos falando de MESESSSS para eu conseguir aceitar ficar 10 dias sem fazer alguma coisa, mas acredito que me apegar à ideia de que não terei tempo no próximo semestre me ajudou.

Aconteceu alguma cura milagrosa? Não, porque eu posso e talvez eu vá vir aqui surtando, acreditando que não sou capaz ou que eu tenho que me esforçar mais. Mas é isso, são processos, são tentativas, é disposição, frustração, raiva, alegria, tristeza. Às vezes é ruim pra caralho, mas infelizmente ou felizmente, é tudo questão de dar tempo ao tempo. E com certeza, se me perguntassem se eu faria tudo de novo? Faria sim num piscar de olhos!

E acredito que apesar de já ter todo esse conhecimento em teoria, estou pela primeira vez entendendo realmente na pratica sobre a importância de respeitar meus próprios limites e aceitar que, às vezes, fazer nada é fazer muito por si mesmo. Essas férias me ensinaram a ser gentil comigo mesma, e pela primeira vez priorizar o meu tempo de alguma forma, a entender que descansar também é uma forma de cuidado, e que tudo bem não ter tudo planejado o tempo todo. Não posso garantir que estarei assim por muito tempo, mas está sendo muito bom aproveitar esses dias sem pressa, e principalmente sem culpa.

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