Botucatu, 08 de janeiro de 2025
Olá leitores de plantão, como vocês estão?
Antes de mais nada, só digo uma coisa: se você se sentir ofendido com o que vou dizer a seguir, talvez seja uma boa hora para refletir sobre por que isso te afeta tanto. Beijos de luz! 🌟
Agora vamos lá. Hoje quero juntar dois pontos importantes, duas coisas que há muito tempo venho querendo escrever. Vou citar esses pontos agora? Não. Mas, prometo, eles vão ficar bem claros ao longo do texto.
Primeiro, acho que muitos de vocês já perceberam que este perfil não é profissional. E, para surpresa de alguns, eu não tenho nenhum interesse em criar uma conta profissional. “COMO ASSIM, EVELYN? VOCÊ ACABOU DE SE FORMAR! É ÓBVIO QUE PRECISA TER UMA CONTA PROFISSIONAL!” Pois é, meus amores, não, eu não preciso. E aceitar isso foi um processo que levou tempo.
Ainda na graduação, vi muitos colegas começarem perfis profissionais, e confesso que isso gerou uma certa pressão. Aquela sensação de que, para construir uma base de pacientes, você precisa começar a se vender nas redes sociais. Lembro de conversar com uma bixete sobre isso (na época, eu já tinha decidido que não criaria um perfil profissional) e falei pra ela sobre como, muitas vezes, criamos esses perfis no automático, só porque todo mundo está fazendo. Surge aquele sentimento de “estou ficando para trás”, sabe?
Depois dessa conversa, ri muito sozinha, porque já tinha passado exatamente pelo que ela estava descrevendo. Então, se você também está nesse dilema, aqui vai uma dica de coração, a mesma que dei a ela: se você está pensando em criar um perfil profissional só porque todo mundo está fazendo, simplesmente não faça. Um perfil profissional precisa fazer sentido pra você. Precisa vir de uma vontade genuína, e não da pressão de se enquadrar.
No meu caso, a decisão de não criar o perfil profissional veio no mesmo período em que eu estava idealizando o “Cartas”. Eu ainda estava cheia de dúvidas sobre o que queria fazer na profissão (spoiler: ainda estou, mas um pouco mais decidida), tendo uma crise existencial nova toda semana. Pensava: “Por que diabos eu criaria um perfil para postar coisas genéricas sobre psicologia, sendo que nem sei o que quero?”
Por favor, entendam: isso não é uma crítica a quem cria perfis profissionais ou posta conteúdos genéricos de psicologia. De forma alguma! Cada um tem o seu processo, e quem opta por isso merece todo o sucesso do mundo. Mas, pra mim, naquele momento (e até hoje), simplesmente não fazia sentido. Talvez um dia faça, mas não agora.
O que eu quero, pelo menos no meu caso, é criar um perfil profissional quando souber exatamente o que quero dizer. Quero ter uma bagagem teórica sólida, propriedade no que falo, e embasamento para sustentar as ideias que compartilho. Quero que, ao ligar uma câmera e falar sobre um tema, as pessoas confiem no que estou dizendo, porque estudei profundamente para isso. Além disso, gostaria de já ter uma área de especialização definida, para falar de algo específico, e não de qualquer coisa aleatória dentro da psicologia.
Então, deixo claro, sendo este o primeiro ponto: este perfil não é profissional, é pessoal. Isso não quer dizer que eu nunca vá falar sobre psicologia por aqui. Afinal, ser psicóloga é uma parte de quem eu sou, mas não é tudo o que sou. Outra parte de mim é pesquisadora acadêmica, alguém que acredita na importância de disseminar o conhecimento científico para além das paredes da universidade. Por isso, quando falar sobre psicologia aqui, não é para me “vender”, mas para compartilhar conhecimento.
E dentro desse cenário entra o segundo ponto: acho que a gente esquece, com muita frequência, o quanto impactamos os outros, mesmo sem intenção. Quero dizer, é algo que sabemos racionalmente — afinal, o objetivo de quem cria conteúdo para as redes sociais é, geralmente, impactar alguém (e espero que de maneira positiva!). Mas o que esquecemos é que esse impacto acontece até nos mínimos detalhes. É aí que mora o cuidado que precisamos ter, porque, às vezes, algo que achamos inofensivo pode contribuir para alguém se sentir mal. Sabe aquele ditado “errei tentando acertar”? Pois é, ele se aplica muito aqui. E, só pra deixar claro, eu me incluo nessa também, tá?
Esse cuidado me leva a um ponto que já falei antes, mas acho que vale reforçar: a tal da produtividade tóxica que a sociedade impõe. Essa ideia de que precisamos produzir sem parar, criar conteúdo o tempo inteiro e seguir uma cartilha invisível para alcançar engajamento ou visibilidade. O problema é que acabamos todos como vítimas dessa lógica frenética. Sem perceber, entramos no modo automático de “produzir, produzir, produzir”, sem parar pra pensar no que realmente importa pra gente ou no que queremos comunicar de verdade pra quem nos acompanha.
Se você, assim como eu, já se pegou pensando “por que não consigo produzir como x, y ou z?”, surpresa: você também é vítima dessa engrenagem! Nas últimas semanas, por exemplo, voltei a me questionar por que não consigo produzir freneticamente como muitos influenciadores digitais. E, pra piorar, aparecem propagandas me prometendo fórmulas mágicas: “melhore seu conteúdo”, “aumente seu engajamento”, “capte mais pacientes”… Aquela pressão toda.
E aí entra o que falei sobre os mínimos detalhes. Quando a gente adere a essa ideia de que precisa se desgastar para “provar” que tem valor, acabamos também passando essa mensagem para quem nos acompanha. Isso contribui para que outras pessoas se questionem: “Por que eu não consigo?” É um ciclo cruel.
Um ponto importante — e que vejo pouca gente abordando — é reconhecer nossos privilégios. Isso, pra mim, é um divisor de águas. No fim do dia, sempre repito pra mim mesma: “Estou fazendo o meu melhor nas condições que eu tenho.” E é exatamente isso. Como vou me comparar com alguém que tem mais privilégios que eu? E, da mesma forma, como você pode se comparar a mim, sendo que eu também tenho os meus privilégios?
Por exemplo: agora estou de férias, pós-finalização da faculdade, com tempo livre para fazer o que gosto e criar essas publicações pra vocês. Mas no ano passado? Eu saía de casa às 6h da manhã e voltava às 22h. Como eu poderia me comparar a alguém que posta todos os dias, se mal tinha tempo pro meu lazer?
É isso que precisamos lembrar: os contextos são diferentes. Por mais que a gente saiba disso racionalmente, como ninguém fala abertamente sobre esses privilégios, acabamos caindo na armadilha da comparação. Uma comparação que não nos cabe e, pior, só alimenta nossa autocobrança. E é muito importante estarmos atentos para não perpetuar essa ideia de que “estar ocupado” ou “ser produtivo” o tempo todo é sinônimo de valor pessoal ou profissional. Afinal, a saúde mental também depende de pausas, lazer e momentos de autocuidado.
Por fim, espero que vocês não se sintam atacados com as minhas palavras. O que eu quero aqui é propor uma reflexão, porque acredito que é essencial pararmos para pensar nessas questões. Como produtores de conteúdo, temos uma responsabilidade com quem nos acompanha, e isso inclui sermos sinceros sobre nossos privilégios e reconhecê-los de forma aberta.
Quando falo em reconhecer privilégios, não estou dizendo que isso desvaloriza nossas conquistas ou esforços. Muito pelo contrário. Reconhecer o contexto em que estamos inseridos só reforça a importância do nosso caminho e das escolhas que fizemos. Mas também abre espaço para que outras pessoas compreendam que a trajetória delas será única, com suas próprias dificuldades, oportunidades e tempos.
É sobre dizer, sem rodeios: “Sim, cheguei até aqui, mas isso foi possível porque tive condições específicas que me permitiram alcançar esses passos. E tudo bem se você ainda está no seu processo, porque ele é válido e importante, exatamente como é.”
Ao sermos transparentes sobre isso, criamos um espaço mais acolhedor, tanto para nós mesmos quanto para quem está do outro lado da tela. Afinal, não existe um único caminho para alcançar o sucesso — e nem um único conceito de sucesso. Cada pessoa tem suas prioridades, seus sonhos, e, mais importante, suas limitações.
Também acho que isso nos ajuda a quebrar o ciclo de comparação constante. Quando normalizamos falar sobre os bastidores das nossas vidas, sobre os sacrifícios e os apoios que tivemos, mostramos que ninguém é invencível ou “perfeito”. Somos humanos, e nossas jornadas refletem isso.
E tem mais: ao reconhecermos e falarmos abertamente sobre os privilégios, incentivamos uma conversa mais honesta e empática. Essa transparência pode inspirar outras pessoas a valorizarem suas próprias jornadas, sem carregar o peso de uma comparação injusta. Porque no fim, não se trata de quem chegou “primeiro” ou “mais longe”, mas de como cada um está construindo sua história no seu tempo, com as ferramentas que tem.
Então, da próxima vez que você sentir que está “atrasado” ou “ficando para trás”, tente se lembrar disso: a sua trajetória é só sua. E ela tem um valor enorme, mesmo que pareça estar em um ritmo diferente do que você esperava. Como eu disse antes, estamos todos fazendo o nosso melhor nas condições que temos. E isso já é mais do que suficiente.
Adorei a reflexão apresentada no texto! Realmente, é essencial ter uma base sólida e propriedade ao compartilhar ideias, especialmente em um ambiente digital onde o impacto pode ser maior do que imaginamos. Concordo que, muitas vezes, subestimamos como nossas ações, mesmo as mais simples, podem afetar os outros de maneiras inesperadas. A pressão por produzir conteúdo constantemente e seguir um modelo específico pode ser bastante desgastante e até contraproducente. Como você acha que podemos encontrar um equilíbrio entre criar conteúdo autêntico e atender às expectativas do público?